O mercado automotivo brasileiro tem se aberto mais para duas categorias de automóveis ultimamente: os SUVs compactos e os hatches subcompactos. A Renault, disposta a melhorar seus resultados no Brasil, decidiu substituir o já ultrapassado Clio, que saiu de linha em 2016, com o lançamento do moderno Kwid, em agosto último. O modelo tem tamanho de subcompacto, mas a suspensão elevada faz com que a marca francesa insista em classificá-lo como SUV. O marketing deu certo, suas vendas decolaram e, em apenas dois meses cheios de emplacamentos, o carro registrou média de 7.141 vendas mensais. Só em setembro, foram 10.357 emplacamentos, o que fez com que a Renault se consagrasse no mesmo mês como a segunda colocada em vendas no que diz respeito aos automóveis de passeio – ou seja, sem levar em consideração os comerciais –, com 11,67% do mercado. Também fruto do preço atraente, que atualmente não ultrapassa os R$ 40.490 pedidos pela configuração topo de linha Intense. 

O Kwid é montado sobre uma plataforma modular – a CMFA –, que deverá ser compartilhada por outros compactos da Renault, Nissan e Datsun. No modelo, destacam-se a suspensão levantada e reforçada e os bons ângulos de ataque e de saída, de 24° e 40°, respectivamente. O tamanho reduzido se mostra vantajoso em grandes cidades, com seus 3,68 metros de comprimento,1,58 m de largura, 1,47 m de altura e 2,42 m de entre-eixos. A altura livre do solo fica em 18 cm.

Renault Kwid Intense

O design segue a nova identidade visual da marca e foi desenvolvido em parceria entre os estúdios do Renault Design Network (Brasil, França e Índia). Com formas robustas e musculosas e para-lamas encorpados, o Kwid tem grade frontal ladeada por faróis alongados, similar às dos novos SUVs globais da marca. Na traseira, um discreto aerofólio e o revestimento em preto abaixo da tampa do porta-malas reforçam a esportividade. No centro da logomarca da tampa do porta-malas está oculta a câmara de ré, de série na configuração Intense. 

Por dentro, o acabamento lembra bastante o do hatch Sandero e do sedã Logan, na configuração intermediária Expression. A posição de dirigir é elevada e, apesar de uma cabine subcompacta, o porta-malas abriga 290 litros. Mas, com o banco traseiro rebatido, pode chegar até 1.100 litros. A título de comparação, o Fiat Mobi Way, que atua na mesma categoria e também tem uma suspensão reforçada e elevada, abriga apenas 215 litros.

Renault Kwid Intense

Uma das características que a Renault mais se gaba em relação ao Kwid é o baixo consumo, atestado pelo InMetro. Além do baixo peso, de 786 kg na variante mais cara – e também a mais pesada –, o Kwid é movido pelo motor 1.0 SCe (Smart Control Efficiency) com três cilindros, 12 válvulas, duplo comando de válvulas, bloco em alumínio e corrente de distribuição no lugar da correia. Ele trabalha sempre com a transmissão manual de cinco marchas e rende 70 cv de potência e torque de 9,8 kgfm a 4.250 rpm com etanol e 66 cv e 9,4 kgfm com gasolina no tanque. 

A boa relação custo/benefício da variante Intense se dá em função da extensa lista de itens de série. Há direção elétrica, quatro airbags, dois Isofix, ar-condicionado, retrovisores, travas e vidros dianteiros elétricos, faróis de neblina, abertura elétrica do porta-malas, chave canivete e um Pack Connect que traz o Media Nav 2.0, central multimídia com tela touchscreen de 7 polegadas integrada ao painel que tem GPS e Bluetooth e transmite as imagens da câmara de ré. 

Ponto a ponto

Desempenho – O motor 1.0 litro de 12V que move o Kwid tem apenas 70 cv de potência a 5.500 rpm e torque de 9,8 kgfm a 4.250 rpm, com etanol, e 66 cv a 5.500 rpm e 9,4 kgfm a 4.250 rpm, com gasolina. Parece pouco, mas o peso de 786 kg da versão de topo Intense ajudam o propulsor na hora de mover o subcompacto. Na cidade, dá e sobra para boas arrancadas, ultrapassagens e retomadas. Nas estradas, é mais comum ter de recorrer às reduções bruscas de marchas, mas nada muito diferente dos outros 1.0 aspirados do mercado. Nota 7.

Estabilidade – Por ser um pouco mais alto, a carroceria do Kwid rola de maneira mais aparente. Mas o ajuste mais rígido da suspensão evita que o carro aderne demais nas curvas. A direção elétrica de série da versão "top" Intense não chega a ser tão suave quanto às outras com essa tecnologia – algo, aliás, típico da Renault – e garante uma sensação maior de segurança em velocidades elevadas. Mas não há controle eletrônico de estabilidade. Nota 7.

Renault Kwid Intense

Interatividade – Apesar do preço baixo, a falta de ajustes de altura para banco do motorista e coluna de direção decepcionam nesse aspecto. Assim como os pinos nas portas para as travas, algo que remete demais a um automóvel retrô e que não combina com o visual do modelo. Em compensação, a central multimídia disponível é bastante intuitiva e tem GPS e câmara de ré, favorecendo as manobras de estacionamento. Mas não há sensores traseiros, que normalmente acompanham o pacote tecnológico da marca francesa. Os retrovisores são elétricos, mas só na frente, e não tem comandos de áudio no volante. E são só dois alto-falantes, na frente, próximo ao para-brisa. Quem está atrás não escuta bem o som do rádio. Nota 5.

Consumo – O Kwid participa do Programa de Etiquetagem do InMetro e obteve nota A no geral e na categoria. Segundo o Inmetro, na cidade, faz 14,9 km/l com gasolina e 10,3 km/l com etanol. Na estrada, 15,6 km/l com gasolina e 10,8 km/l com etanol. Nota 10.

Renault Kwid Intense

Conforto – O Kwid é um subcompacto, logo, não dá para esperar uma área interna ampla. Nem mesmo os passageiros da frente desfrutam muito de espaço, já que o carro é estreito. Duas pessoas mais robustas certamente se esbarrarão em algum momento do trajeto, mesmo cada uma em seu assento. A altura interna é boa para quem tem estatura média e a suspensão filtra de maneira normal os desníveis do solo. Não chega a entregar o mesmo conforto que um SUV nesse quesito, mas se comporta melhor que um hatch mais baixo. O isolamento acústico, por outro lado, parece inexistente – o Kwid é bastante barulhento. Nota 6.

Tecnologia – A plataforma modular CMFA é nova – mas a versão indiana do Kwid, lançada em 2015, levou recentemente nota zero no crash test do Global NCAP, órgão de segurança viária da Ásia – no Latin NCAP a nota foi de três estrelas. A Renault garante que o modelo produzido no Paraná foi reprojetado e recebeu aços de alta resistência na estrutura. O motor 1.0 de três cilindros é moderno, mas foi "aliviado" de alguns recursos tecnológicos em relação ao que havia estreado no final do ano passado no Sandero, com 82 cv com etanol – no Kwid, são 70 cv. Qualquer versão tem airbags laterais de série, além dos frontais obrigatórios, e a configuração Intense ainda traz uma lista disponível que inclui até câmara de ré e central multimídia com GPS, o que é uma vantagem na faixa de preço em que atua. Nota 8.

Renault Kwid Intense

Habitabilidade – O subcompacto tem como principal vantagem o porta-malas, que está na média dos hatches compactos – ou seja, maiores que ele. As limitações de espaço interno já foram citadas e um detalhe incomoda bastante: não há porta-copos, só um espaço no bolsão das portas que passa a impressão de não segurar não bem os recipientes de bebida. Em compensação, há um grande nicho à frente do câmbio para transportar todos os objetos que necessitam estar à mão do condutor. Nota 7.

Acabamento – A maior parte dos compactos e subcompactos nacionais pecam nesse aspecto e o Kwid não foge muito ao padrão racional da Renault, mesmo em sua variante mais cara. São plásticos rígidos, com encaixes corretos. O sistema multimídia é envolvido por acabamento em preto brilhante, mas não há qualquer toque de requinte ou de luxo. Nota 6.

Renault Kwid Intense

Design – As linhas do Kwid são fluidas e equilibradas, mas reforçam a imagem robusta que a Renault busca transmitir com o modelo. A suspensão elevada contribui para a ideia de se tratar de um SUV e há elementos gráficos típicos de modelos com estética aventureira. O desenho é interessante no segmento em que atua e dá certa personalidade ao subcompacto. Nota 9.

Custo/benefício – A versão Intense sai a R$ 40.490, mas traz o pacote tecnológico com central multimídia e câmara de ré, além de trio elétrico e quatro airbags. Mas peca demais na economia com materiais de isolamento acústico. O Fiat Mobi Way, seu concorrente mais direto, custa R$ 44.017 completo, mas causa uma impressão melhor. Um Ford Ka Trail 1.0 parte de R$ 48.430, enquanto o Volkswagen Up Cross começa em R$ 57.590, mas chega a R$ 59.900 completo, com central multimídia e bancos em couro sintético. Nenhum deles barra o Kwid Intense no preço, principalmente pela lista completa de itens de série do modelo da Renault e sua suspensão elevada. Nota 9.

Total – O Renault Kwid Intense levou 74 pontos de 100 possíveis.

Impressões ao dirigir

Bom de briga

A Renault investiu bastante em marketing antes do lançamento do Kwid. Talvez por isso até hoje, mais de três meses depois de sua chegada ao mercado, o modelo ainda arranque olhares curiosos e faça com que algumas pessoas questionem o motorista sobre os predicados do carro. Principalmente quando se trata da versão Intense, que tem um visual mais charmoso e que, apesar de priorizar o baixo custo, se destaca.

Renault Kwid Intense

Um dos principais trunfos estéticos é agregar o charme aventureiro dos utilitários esportivos a um modelo que, além de ser de entrada, pode ser considerado com uma das melhores relações custo/benefício do país. Na configuração Intense, a quantidade de itens surpreende em função do valor cobrado: R$ 40.490. Com direito a central multimídia com GPS e tela touch de 7 polegadas, câmara de ré e quatro airbags. E seu maior problema pode ser também encarado como um atrativo para muitos consumidores: o tamanho pequeno, ruim para quem quer passear com muita gente, mas ideal para a utilização em grandes centros urbanos. Não só no comprimento, mas também na largura – faz diferença na hora de manobrar em vagas paralelas. 

Dinamicamente, o Kwid se comporta de maneira correta, como a maior parte dos veículos 1.0 modernos. Movido pelo motor 1.0 SCe com três cilindros, 12 válvulas e duplo comando de válvulas e controlado por uma transmissão manual de cinco marchas com engates precisos, o Kwid circula fácil no “para e anda” das cidades. Os 70 cv máximos com etanol podem parecer pouco, mas diante dos 786 kg da variante Intense – a mais pesada –, percebe-se como ele se mostra tão esperto próximo aos 4.250 giros, quando aparece o torque máximo de 9,8 kgfm com o mesmo combustível.

Renault Kwid Intense

De qualquer forma, é a suspensão elevada o grande apelo do Kwid. Com ela, passa-se com mais desembaraço pelos buracos e quebra-molas, sem maltratar tanto quem está a bordo ou forçar demais o carro. E o ajuste mais firme na traseira garante um comportamento estável mesmo em velocidade elevada. As rolagens de carroceria surgem com mais intensidade do que em outros hatches, mas nada que assuste. A direção elétrica segue o padrão da marca francesa, mais endurecido que nas fabricantes concorrentes, o que também amplia a sensação de segurança. 

Ficha técnica

Renault Kwid Intense

Motor 1.0Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 999 cm³, três cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro. Injeção multiponto e acelerador eletrônico
TransmissãoManual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não oferece controle eletrônico de tração. 
Potência66/70 cv com gasolina/etanol a 5.500 rpm
Torque9,4/9,8 kgfm com gasolina/etanol a 4.250 rpm
Aceleração de zero a 100 km/h14,7 segundos
Diâmetro e curso71,0 mm X 84,1 mm
Taxa de compressão11,5:1
Velocidade máxima156 km/h
SuspensãoDianteira do tipo McPherson, triângulos inferiores, amortecedores hidráulicos telescópicos e molas helicoidais. Traseira com eixo de torção com molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos verticais. Não oferece controle eletrônico de estabilidade
Pneus165/70 R14
FreiosDiscos sólidos na frente e tambores atrás. Freios ABS com EBD. 
CarroceriaHatch subcompacto em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 3,68 metros de comprimento, 1,58 m de largura, 1,47 m de altura e 2,42 m de distância entre-eixos. Airbags frontais e laterais
Peso786 kg
Capacidade do porta-malas290 litros
Tanque de combustível38 litros
ProduçãoSão José dos Pinhais, Brasil
Itens de sérieRodas aço de 14 polegadas, Isofix, alerta visual e sonoro de não-utilização do cinto de segurança do motorista, abertura interna do porta-malas, banco traseiro rebatível, desembaçador do vidro traseiro, espelho de cortesia no lado do passageiro, tomada 12V, indicador de troca de marcha, alerta sonoro de faróis acesos, ar-condicionado, direção elétrica, revestimento interno do porta-malas, travas elétricas, vidros dianteiros elétricos, dois alto falantes, faróis de neblina, apoio de cabeça traseiro central, bolsas integradas na parte traseira dos bancos, computador de bordo, retrovisores elétricos, tacômetro, abertura elétrica do porta-malas a distância, câmara de ré, chave canivete, central multimídia com GPS e Bluetooth. 
PreçoR$ 40.490

Renault Kwid Intense

Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Isabel Almeida/CZN