O sistema de cotas criado pelo governo “aguou” o negócio de várias marcas no Brasil. Algumas até estouraram o volume de importação permitido antes mesmo do início do quarto trimestre. Para a Toyota, ao contrário, os limites do Inovar-Auto viraram uma vantagem. Graças à cota, o RAV4 pôde se tornar um real concorrente no segmento de utilitários esportivos médios – aproveitando a renovação do modelo, importado do Japão. A montadora tem o direito de trazer 10 mil unidades do exterior sem pagar o super-IPI, de 30% adicionais, e decidiu que estas unidades virão para encarar de frente os rivais. Como a Honda com seu CR-V, produzido no México. E também outros orientais que vêm dominando o segmento, como Hyundai iX-35, Kia Sportage e Mitsubishi ASX. O novo RAV4 chega com novo visual, melhor equipado e, mais importante, preço equiparado ao dos concorrentes.

Nova Toyota RAV4

Esta atitude criou um fato pouquíssimo usual no mercado brasileiro: o novo RAV4, tratado como nova geração pela Toyota, chega mais barato do que o modelo que acaba de sair de cena. O modelo básico, 4X2 e com motor 2.0 com câmbio continuamente variável, CVT, fica por R$ 96.900. A versão intermediária utiliza o mesmo trem de força, mas tem tração integral e vários equipamentos a mais, está tabelada a R$ 109.900. O configuração de topo vem com um propulsor 2.5 – evolução do 2.4 utilizado no antigo RAV4 –, câmbio automático de seis marchas e custa R$ 119.900. O desemprendimento da marca não foi pequeno. O modelo 2.4 4X4 antigo vinha bem menos equipado, tinha um câmbio automático antiguinho, de quatro velocidades, e custava R$ 125 mil. E a versão 4X2 saía a R$ 110 mil.

A estratégia da Toyota é claramente ganhar no volume. Antes o RAV respondia a uma escala dentro da própria concessionária da marca. O preço do RAV era relacionado ao da SW4. Com a mudança, a expectativa em relação ao modelo é simplesmente dobrar as vendas, de 400 para 800 unidades mensais – a sobra seria usada para importar Camry e Prius, dois modelos de imagem. Não parece nada improvável que esta meta seja alcançada. Para começar, esta média está até abaixo da obtida pelos SUVs médios que lideram o segmento no mercado. Depois, o RAV4 ganhou apelo estético e de conteúdo nessa nova fase – principalmente nas versões intermediária e de topo.

Nova Toyota RAV4

Não é caso da básica, que de fato faz jus a esta definição. Desde o acabamento até a chave de ignição – igual à do Etios, por exemplo –, tudo ali foi pensado para reduzir o custo e valorizar ainda mais os apetrechos das versões mais completas. De mais sofisticado, ela tem sensor de obstáculo traseiro, rodas de liga leve e conexão Bluetooth – além dos “obrigatórios” ar, direção, trio, ABS e airbags frontais. Já a versão intermediária ostenta recursos bem mais interessantes. Vem com seis airbags, câmera de ré, botão de ignição e chave com destravamanto por aproximação, além da tração integral. A versão topo, que deve responder por apenas 10% das vendas totais, tem rigorosamente os mesmos recursos da intermediária, a não ser pelo acréscimo do trem de força mais poderoso e do teto solar.

Na parte visual, o avanço do crossover da Toyota foi também notável. A começar pelo espete, que foi para um lugar mais apropriado, no assoalho do compartimento de bagagens – o que provocou um “encolhimento” de 3 cm, para 4,57 metros. A plataforma do RAV4 manteve a arquitetura do modelo antigo. Por isso, tem a mesma angulação nas colunas e também o entre-eixos de 2,66 metros. Já altura é igual, mas ficou 4 cm mais largo. O ganho nas linhas da traseira, porém, extrapola a simples retirada do pneu sobressalente. Os traços mais marcantes das linhas do modelo ficam ali, no recorte de tampa, vidro traseiro e aerofólio. Já a frente ostenta o mesmo sorriso presente no Etios e que representa a nova identidade da marca. E, de alguma forma, espelha o otimismo com que a Toyota vem encarando tanto o mercado brasileiro quanto a retomada da liderança do mercado mundial. 

Nova Toyota RAV4

Ponto a ponto

Desempenho – Apesar da diferença de tamanho e potência, os motores do RAV4 respondem de maneira bastante semelhante. O propulsor 2.5 tem bons 179 cv e 23,8 kfgm de torque, mas é ligeiramente anestesiado pelo câmbio automático de seis marchas. Ainda assim, tem agilidade nas acelerações e retomadas. Já o motor 2.0 é semelhante ao do Corolla, embora não seja flex, e fornece 145 cv e 19,1 kgfm. Este tem a vantagem de contar com um câmbio CVT, que mantém a relação mais apropriada para responder prontamente à pressão do acelerador. No final das contas, os motores conversam bem com os câmbios mas nenhum dos dois emociona ou enerva quem está ao volante. Nota 7.

Estabilidade – A Toyota manteve o acerto “europeu” que o antigo RAV4 tinha. A suspensão é rígida o suficiente para impedir as rolagens laterais e a absorção das irregularidades ficam a cargo dos pneus de perfil bem avantajado, 225/65 R17. Esta lógica resulta numa melhor dirigibilidade em pisos mais regulares, em ruas pavimentadas ou rodovias, e exalta mais o lado “crossover” do modelo da Toyota, como aliás ocorre com praticamente toda a concorrência. Nota 8.

Interatividade – O RAV se mostra bem menos parcimonioso no número de equipamentos que o modelo anterior. O modelo básico 2.0 4X2,  que deve responder por 70% das vendas, tem sistema de som com Bluetooth, sensor de ré, computador de bordo e retorvisores externos rebatíveis eletricamente, mas a ausência de controle de cruzeiro para um modelo com câmbio CVT não tem lógica. A situação melhora nas outras versões, bem mais caras, com câmera de ré, bancos elétricos e retrovisor interno eletrocrômico. A direção é bastante comunicativa e tem boa pegada. Nota 8

Nova Toyota RAV4

Consumo – Segundo o InMetro, o novo RAV4 não faz feio. O motor 2.0, 4X2 ou 4X4, conseguiu classificação A no segmento e C no geral ao fazer médias de 9,5 km/l na cidade e 10,9 km/l na estrada. O motor 2.5 4X4 ficou com B no segmento e C no geral, com 8,7 km/l na cidade e os mesmos 10,9 km/l na estrada do motor menor. São bons números para um modelo com mais de uma tonelada e meia de peso. Nota 8.

Tecnologia – Em vez de criar um novo RAV4, a Toyota preferiu promover uma forte renovação no antigo. Ele manteve a mesma arquitetura do modelo lançado em 2005, com alteração na qualidade dos aços estruturais para aumentar a rigidez torcional. Os motores também são evoluções de propulsores já conhecidos. O 2.0 é o mesmo aplicado ao Corolla e o 2.5 é um aprimoramento do 2.4 do antigo RAV. O sistema de tração também não mudou: é on-demand com transferência de, no máximo, 50% da tração para o eixo traseiro. Mas agora ganhou um gerenciamento eletrônico mais moderno. Em relação à segurança, nada de muito impressionante. Airbag e seis airbags apenas nas versões caras. Falta controle de estabilidade, recurso desejável em um modelo com 1,70 metro de altura, e GPS, presente até no defasado Corolla. Nota 7.

Conforto – O RAV4 oferece uma boa área para até cinco ocupantes. Há bom espaço lateral e para as pernas dos passageiros que vão atrás, que ainda contam com encosto reclinável. Os bancos não são muito macios, mas sustentam bem o corpo. A suspensão firme e os pneus de perfil alto formam um bom conjunto, principalmente em pavimentos de melhor qualidade. Em pisos menos nivelados, esta equação não funciona tão bem. As vibrações chegam aos ocupantes com pouca filtragem. Nota 8.

Nova Toyota RAV4

Habitabilidade – Estranhamente, a boa altura do modelo externa do RAV4 não se reflete internamente numa posição mais ereta para os ocupantes. O assento fica próximo ao assoalho e faz com que o joelho fique muito dobrado. Por outro lado, as portas são amplas e a altura do modelo facilita o entre-e-sai. A Toyota não revela a capacidade de carga até a altura do vidro, que fica em torno de 500 litros. Ocupado até o teto, cabem 1.087 litros. Se for tratado como uma Kombi qualquer, com carga até o teto e com os bancos rebatidos, passa de 2 mil litros. O melhor é que a tampa do porta-malas agora articula para cima e não para o lado, como antigamente, já que não carrega mais o espete. Nota 9.

Acabamento – A versão de entrada, que vai responder por 70% das vendas, tem um acabamento sofrível, apesar de custar quase R$ 100 mil. No tablier, o painel imita a forração em couro que realmente existe nas versões superiores. Há plásticos em excesso, alguns com pintura metalizada, todos rígidos e desagradáveis ao toque e ao olhar. O revestimento dos bancos e do painel das portas também não transmitem qualquer requinte. Nas configurações 4X4, revestidas em couro, o ambiente melhora um pouco. Há muitas rebarbas nas placas de plástico, mas nenhuma imprime tanta falta de qualidade quanto a que cobre o fundo da mala. Nota 6.

Design – Foi o ponto em que o RAV4 verdadeiramente evoluiu. O desenho da frente é uma versão mais aprimorada e requintada da utilizada pelo compacto Etios, em que parece que o carro está com um sorriso estampado. O perfil ficou aprisionado nas dimensões e nos ângulos das colunas da geração anterior, mas a solução para a tampa do porta-malas, agora sem o estepe, foi original e interessante. A lataria abaixo do vidro é ressaltada e forma uma espécie de minivolume. A lanterna foi horizontalizada e dá um aspecto bem agressivo. Internamente, o design é bem conservador, com intrumentos concentrados em um cluster quadrangular. Nota 8.

Custo/benefício – O modelo mais barato regula com os rivais diretos, como Honda CR-V, Hyundai iX-35, Kia Sportage e Mitsubishi ASX. As versões com tração integral são bem-equipadas, mas têm valores mais salgados. De qualquer forma, o RAV4 evoluiu neste aspecto e ganhou melhores condições de brigar entre os SUVs médios. Nota 8.

Total – O Toyota RAV4 somou 77 pontos em um máximo de 100 possíveis.

Nova Toyota RAV4 - Detalhe do Farol

Primeiras impressões

Itatiba/São Paulo – O RAV4 traz a característica mais típica dos modelos da japonesa Toyota: um veículo equilibrado ao extremo e sem supresas. É um produto desenhado para um consumidor pragmático, que não quer problemas e encara automóvel prioritariamente como meio de locomoção – no caso, com boa dose de conforto. Apesar de ser alto, de aspecto robusto, o RAV4 não se presta a injetar adrenalina no sangue de ninguém. A susposta capacidade off-road insinuada pela tração integral, prejudicada pelo protuberante spoiler dianteiro, é indicada para, no máximo, evitar a desagradável perda de aderência na lama formada após a chuva na estrada de terra a caminho do sítio.

As motorizações que a marca japonesa separou para o Brasil indicam este propósito. Tanto o modelo 2.5, com câmbio automático de seis velocidades, quanto o 2.0, com câmbio CVT, deslocam o RAV com algum firmeza, mas sem qualquer agressividade. A caixa automática faz as mudanças de forma quase imperceptível e consegue explorar as capacidades do motor de 179 cv de forma elegante, sem gritos ou trancos. No caso do CVT, esta progressividade no ganho de velocidade fica tão monótona que a engenharia “inventou” sete marchas, ou relações pré-programadas, para emular um pouco mais de vigor. No relógio, porém, o CVT é mais eficiente na hora de acelerar ou de retomar.

Toyota RAV4 - Detalhe da Lanterna Traseira

Por dentro, o crossover da Toyota é também previsível. Os comandos estão nos lugares certos, há porta-copos e porta-objetos na dose correta e o design de painel e console não permite adivinhar se o modelo é da primeira ou da segunda década do milênio. Só a ergonomia escapa um pouco dessa mistura de mesmice e eficiência. Apesar de todos os elementos internos indicarem que a postura dos ocupantes deva ser a de quem senta numa cadeira, mais ereta, o assento fica próximo demais do piso, forçando uma genuflexão exagerada – de fato, mesmo com pessoas de estatura média, os joelhos ficam mais altos que o quadril.

Os materiais de acabamento também poderiam ser mais caprichados. Há plásticos demais e muitas rebarbas nas peças rígidas. O revestimento em couro, presente nas versões intermediária e superior, é um investimento necessário para sintonizar o RAV com um segmento de veículos em torno de R$ 100 mil. Seja como for, em termos relativos o novo RAV apresenta melhoras significativas. Há mais e melhores equipamentos que o antigo, além adotar, com extremo bom gosto, a retirada do espete da tampa traseira.

Ficha técnica: Toyota RAV4

Motor 2.0: Gasolina, dianteiro, transversal, 1.987 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando duplo no cabeçote e duplo comando variável de válvulas. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.

Potência: 145 cv a 6.200 rpm.

Torque: 19,1 kgfm a 3.600 rpm.

Diâmetro e curso: 80,5 mm X 97,6 mm. Taxa de compressão: 10,0:1.

Transmissão: Automática do tipo CVT com sete relações pré-determinadas. Tração dianteira (integral). Não possui controle de tração.

Toyota RAV4 - Detalhe do Interior da Cabine

Peso: 1.525 kg (1.615 kg com tração integral).

Motor 2.5: Gasolina, dianteiro, transversal, 2.494 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando duplo no cabeçote e duplo comando variável de válvulas. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.

Potência: 179 cv a 6 mil rpm.

Torque: 23,8 kgfm a 4.100 rpm.

Diâmetro e curso: 90,0 mm x 98,0 mm. Taxa de compressão: 10,4:1.

Transmissão: Automática com seis velocidades à frente e uma a ré. Tração integral. Não possui controle de tração.

Peso: 1.630 kg.

Toyota RAV4 - Motor

Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson com barras estabilizadoras. Traseira independente do tipo double wishbone com barras estabilizadoras. Não possui controle de estabilidade.

Pneus: 225/65 R17.

Freios: Discos ventilados na frente e sólidos atrás. ABS de série.

Carroceria: Utilitário esportivo em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,57 metros de comprimento, 1,85 m de largura, 1,72 m de altura e 2,66 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais (4X2) ou airbags frontais, laterais e de cortina (4X4).

Capacidade do porta-malas: 1.087 litros até o teto ou 2.078 litros com os bancos rebaixados e até o teto.

Tanque de combustível: 60 litros.

Produção: Aichi, Japão. 

Itens de série

Versão 2.0 4X2: Ar-condicionado manual, rádio/CD/MP3/Bluetooth, banco do motorista com regulagem de altura, banco traseiro bipartido, computador de bordo, volante multifuncional revestido em couro, trio elétrico, barras longitudinais no teto, rodas de liga leve de 17 polegadas, airbags frontais, faróis de neblina, sensor de estacionamento traseiro e ABS com EBD e BAS.

Preço: R$ 96.900.

Versão 2.0 4X4: Adiciona ar-condicionado dual zone, sistema de som com central multimídia e monitor sensível ao toque de 6,1 polegadas, câmera de ré, banco do motorista com ajuste elétrico, bancos revestidos em couro, cruise control e tração integral.

Preço: R$ 109.900.

Versão 2.5 4X4: Adiciona motor 2.5 e teto solar elétrico.

Preço: R$ 119.900.

Autor: Eduardo Rocha (Auto Press)
Fotos: Eduardo Rocha/Carta Z Notícias