Quando a Nissan lançou o Kicks no Brasil, queria aproveitar o embalo dos Jogos Olímpicos Rio 2016, dos quais era a única patrocinadora entre as fabricantes de carros. Mas, na pressa, só conseguiu vender o modelo importado do México e na configuração SL, a topo de linha. Para ter volume de emplacamentos, é preciso apostar em versões variadas, capazes de atingir diferentes públicos. Isso se resolveu em julho último, quando o modelo, já brasileiro, passou a ser comercializado em três diferentes tipos de acabamento e duas transmissões – manual ou CVT. Com câmbio automático, a variante que sai mais em conta hoje é a S, que entrega uma lista até boa de itens de série por R$ 80.490.
Principal novidade do Kicks nacional, a variante S com câmbio CVT tem airbags duplos frontais e freios ABS, exigidos por lei, e ar-condicionado, alarme perimétrico, bancos em tecidos, fixadores traseiros para cadeiras de crianças (Isofix), cinto de segurança de três pontos para todos os passageiros, rádio com entrada para mp3 player, conector USB e Bluetooth, trio elétrico, coluna de direção com ajuste de altura, direção elétrica com volante multifuncional, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, faróis de neblina e rodas de liga leve de 16 polegadas.
Outra vantagem do Nissan Kicks S CVT é que ele traz exatamente o mesmo trem de força das configurações mais caras do SUV compacto, a SV e a SL. Trata-se de um 1.6 16V capaz de entregar 114 cv de potência máxima a 5.600 rpm e torque de 15,5 kgfm a 4 mil rpm. Focado na economia de combustível, o carro conquistou nota “A” em eficiência energética e emissão de gases dentro do Programa de Etiquetagem Veicular (PBEV) do Inmetro e o selo do Conpet, concedido aos modelos que participam do programa de etiquetagem que atingem grau máximo de eficiência energética.
A chegada de uma oferta maior de opções na gama Kicks já trouxe bons resultados para a marca nipônica. Em agosto e setembro últimos, primeiros dois meses fechados de vendas do utilitário esportivo após a adoção de novas versões, foram registrados 3.469 e 3.448 emplacamentos, respectivamente. Até junho, a média do acumulado de 2017 era de 2.127 unidades, ou seja, um crescimento de mais de 60% nas vendas. Um gás que a fabricante estava mesmo precisando receber e que a variante S CVT ajudou a aumentar.
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 1.6 16V da versão de entrada é o mesmo das superiores e responde bem às pisadas no acelerador. Rende 114 cv, com etanol ou gasolina, e 15,5 kgfm de torque, números suficientes para garantir um desempenho honesto no trânsito. A transmissão continuamente variável anestesia um pouco o propulsor e faz um trabalho sem grandes surpresas tanto na cidade quanto na estrada. Nota 7.
Estabilidade – De maneira geral, o Kicks S é um carro equilibrado. Com o câmbio CVT, os controles eletrônicos de estabilidade e tração, opcionais na configuração manual, passam a ser de série. As rolagens de carroceria são sutis e não assustam. A direção é bem leve, mas ganha firmeza conforme a velocidades sobe. Nota 8.
Interatividade – Trata-se de uma configuração de entrada e, com isso, não há muitos comandos para serem explorados. Todos são bem posicionados e o rádio que acompanha o Kicks S não decepciona. Não há sensores de estacionamento traseiros, o que seria muito bem-vindo, já que a visibilidade em manobras é prejudicada pelas grossas colunas traseiras. O volante multifuncional concentra todas os botões na esquerda – e os comandos de climatização são giratórios. Nota 6.
Consumo – O Kicks S CVT não foi testado pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem do InMetro, mas tem o mesmo trem de força da variante topo de linha SL, que passou pelo teste. O modelo recebeu nota “A” na sua categoria e “B” na classificação geral, com médias de 8,1/9,6 km/l com etanol e 11,4/13,7 km/l com gasolina na cidade/estrada. O índice de consumo energético foi de 1,74 MJ/km. Nota 9.
Conforto – Como todo SUV compacto, o Kicks tem um espaço interno até próximo ao de um modelo médio. Quatro pessoas viajam com bastante folga e um quinto elemento, em trajetos curtos, não interfere tanto. A suspensão absorve com competência as irregularidades e a densidade dos bancos é boa. As saídas de ar centrais, apesar de aparentemente menores, não prejudicam a climatização do habitáculo. Nota 8.
Tecnologia – A plataforma V é a segunda geração da B-zero da Nissan, com estrutura reforçada, novos materiais no assoalho, painéis laterais e frontais e mais pontos de solda. O motor, que também equipa o hatch March e o sedã Versa, passou por alterações para entregar mais vigor. A lista de itens de série é simples, mas de acordo com o que se espera de um veículo confortável. Nota 7.
Habitabilidade – O bom ângulo de abertura das portas e a altura da carroceria fazem com que seja bem fácil entrar e sair do carro. No interior, existem poucos vãos para guardar objetos de uso pessoal. O porta-malas leva 432 litros e o bom espaço interno é um dos pontos fortes do carro. Nota 8.
Acabamento – Há plástico rígido por todos os lados, mas isso não foge muito à realidade do segmento no Brasil. Mas uma coisa chama atenção no Kicks S: não fica aquela sensação evidente de estar em uma versão de entrada. Os encaixes são bem feitos, os materiais aparentam boa qualidade e, apesar de não surpreenderem, também não decepcionam. Nota 7.
Design – O Kicks tem bom porte e um visual extremamente contemporâneo. As linhas são bem-marcadas e o teto flutuante confere uma dose extra de charme ao modelo. Assim como no interior, o exterior também não remete a uma configuração inferior. As rodas de liga leve têm detalhes em preto brilhante e, de maneira geral, a versão S se mostra bonita e elegante nas ruas. Nota 8.
Custo/benefício – O Nissan Kicks S CVT custa R$ 80.490. Renault, Hyundai e Honda cobram bem mais por Captur, Creta e HRV sem pedal de embreagem – começam em R$ 86.450, R$ 86.740 e 87.900, respectivamente. Em compensação, um Peugeot 2008 Allure 1.6 automático é vendido por R$ 78.590. E a Ford entrega o EcoSport 1.5 automático – já com central multimídia, piloto automático e sete airbags – por R$ 78.990 e são 23 cv a mais que o Kicks, 137 cv no total. Mais barato ainda é um Renault Duster Expression 1.6 CVT, que embora não tenha itens como controles dinâmicos de estabilidade e tração, sai por R$ 74.990. Nota 6.
Total – O Nissan Kicks S CVT somou 74 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
O visual do Kicks não se diferencia tanto de alguns concorrentes diretos – Hyundai, Nissan e Honda parecem ter bebido da mesma fonte na hora de projetar o design de seus SUVs compactos. Mas algo interessante na versão S, a de entrada, com o câmbio CVT, é que seu aspecto não se distancia muito das configurações mais caras. Até as rodas de liga leve chamam atenção, são charmosas e, em movimento, criam um contraste bacana em função da combinação do tom prateado com o preto brilhante delas.
A chave não é presencial, mas é canivete. O interior, apesar de simples, não decepciona. Há poucos comandos e o rádio com Bluetooth – central multimídia só aparece nas variantes mais caras – é bastante funcional. Basta ligar o motor e mexer no volante para perceber o quanto a direção é leve. Bom para as manobras de estacionamento, que não podem contar com qualquer ajuda na hora de dar ré. Isso porque não há câmara de visão traseira e nem sensores de obstáculos.
A construção do Kicks segue uma lógica bem pragmática, de baixo peso e pouca potência – ele pesa de 100 kg a 150 kg menos que os rivais diretos. Por isso mesmo, o motor 1.6 de 114 cv não empolga. Principalmente porque é acompanhado pela prática e econômica, mas pouco instigante, transmissão continuamente variável. Há um modo esportivo, que faz as rotações do propulsor subirem e insere uma pequena dose de ânimo – e também um barulho irritante na cabine quando se acelera com mais vontade. Em curvas, há um bom equilíbrio e é difícil ver os aparatos eletrônicos de segurança darem as caras. Nem é para eles aparecerem muito mesmo, já que não existe nenhuma proposta esportiva no Kicks S CVT. A prioridade é o conforto e a economia de combustível. E nesses pontos, o SUV compacto fabricado em Resende se dá bem.
Ficha técnica
Nissan Kicks S CVT
| Motor | Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e comando com variação contínua de abertura das válvulas. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto semi-sequencial indireta |
|---|---|
| Potência máxima | 114 cv a 5.600 rpm com etanol e gasolina |
| Aceleração 0-100 km/h | 12 segundos |
| Velocidade máxima | 175 km/h |
| Torque máximo | 15,5 kgfm a 4 mil rpm com etanol e gasolina |
| Diâmetro e curso | 78 mm X 83,6 mm |
| Taxa de compressão | 10,7:1 |
| Suspensão | Dianteira independente do tipo MacPherson com barra estabilizadora. Traseira por eixo de torção. Oferece controle eletrônico de estabilidade |
| Pneus | 205/55 R17 |
| Freios | Discos ventilados na frente e tambor atrás. Oferece ABS com EBD e assistência de partida em rampa |
| Carroceria | Crossover em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,30 metros de comprimento, 1,76 m de largura, 1,59 m de altura e 2,61 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais de série |
| Peso | 1.142 kg |
| Capacidade do porta-malas | 432 litros |
| Tanque de combustível | 41 litros |
| Produção | Resende, Rio de Janeiro |
| Lançamento mundial | 2016 |
| Lançamento no Brasil | 2016 |
| Itens de série | Abertura da tampa de combustível por acionamento interno, abertura elétrica das portas e do porta-malas, acabamento dos bancos e detalhes das portas em tecido, apoios de cabeça dianteiros e traseiros separados e ajustáveis para os cinco ocupantes, ar-condicionado, banco do motorista com ajustes de altura, banco traseiro bipartido 60/40 e dobrável, direção elétrica com controle de áudio e telefone no volante, controle do computador de bordo no volante, para-sol com espelhos para motorista e passageiro, porta-malas com iluminação interna, porta-revistas nos bancos dianteiros, duas tomadas 12V, vidros dianteiros e traseiros elétricos com sistema “one touch down” somente para o motorista, volante de três raios com regulagem de altura e profundidade, aerofólio integrado na cor do veículo, rack de teto longitudinal na cor prata, retrovisores externos com regulagem elétrica, alarme perimétrico, cintos de segurança de três pontos para todos os passageiros, desembaçador de vidro traseiro com temporizador, fixadores traseiros para cadeiras de crianças, luz de freio em leds, travamento central automático das portas e do porta-malas com o veículo em movimento, rádio com entrada auxiliar para MP3 Player, conector USB e Bluetooth e sistema de som com quatro alto-falantes |
| Preço | R$ 80.490 |
Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Márcio Maio/CZN