Não estamos nem ao menos próximos em termos de investimentos militares em países como os Estados Unidos. Mas isso não significa que não temos também alguns clássicos construídos, especialmente em termos de veículos versáteis para serem utilizados pelos militares. Especialistas confirmam que no meio militar um dos carros mais versáteis foi o VTNE (Viatura de Transporte Não Especializado), um 4x4 de 750 kg de carga para transporte de tropas, ambulância ou telecomunicações. Mas nos anos 80 um carro foi lançado e acabou ganhando o posto dos mais clássico de todos os clássicos: o EE-34.

Engesa EE-34

A história do carro EE-34 acaba se confundindo com a história da própria empresa que produzia o veículo, a Engesa, que na verdade significava Engenheiros Especializados S/A. A empresa estava em atuação no Brasil desde os anos 60, mas em um segmento completamente diferente, já que sua principal atuação era para a construção de peças de reposição que eram vendidos para a Petrobras, mas já atuava no segmento de alguns veículos. Mas a atuação da empresa acabou focando mais no carro quando eles perceberam uma necessidade da empresa: os carros frequentemente que eram utilizados pela Petrobras acabavam atolando no caminho dos poços de petróleo.

A empresa foi esperta na ocasião e enxergou ali um nicho interessante que poderia ser explorado e para conseguir convencer a empresa, eles construíram um kit 4X4 que poderia ser utilizado nos carros que já estavam em funcionamento. No final das contas, o kit que foi feito para ser adaptado nos veículos se mostrou simples e ao mesmo tempo eficiente, e a empresa conseguiu fechar mais um contrato com a Petrobrás para a venda de kits para todos os carros. Ao mesmo tempo que a empresa conseguiu estreitar os laços com a Petrobras, também acabou conseguindo conquistar a atenção de alguns comandantes militares da época.

Na época, a GM também teria mostrado interesse no kit de tração total que foi desenvolvido pela empresa, e a homologou para seus utilitários, tornando-se o principal fornecedor de VTNE para as Forças Armadas, com as picapes Chevrolet C14/C15 com sistema 24 volts, cabine aberta e para-brisa basculante. Portanto, o nascimento do carro que viria a se tornar um dos grandes sucessos entre os militares da época, dependeu da união destas duas empresas para realmente ser o sucesso que acabou sendo.

Sucesso civil e militar

A empresa conseguiu transformar o seu kit um grande sucesso tanto nas vendas para os civis quanto para as vendas para os militares. A empresa acabou vendendo também kit para picapes usadas, com a transformação a cargo da Envemo (Engenharia de Veículos e Motores Ltda.), do empresário Angelo Gonçalves. E foi apenas uma questão de tempo até que finalmente a empresa lançasse o seu próprio veículo feito já com o kit que estava fazendo tão sucesso em termos de tração.

O estilo estava sendo inspirado em utilitários militares americanos, que sempre serviram de inspiração para os veículos militares de outros países. Dentre os principais veículos que servira de referência para o carro estava Kaiser Jeep M715. A carroceria era da Envemo, mas o resto vinha de outros fabricantes nacionais: o motor Perkins 4236 formava um conjunto elogiado com o câmbio Clark 240V de cinco marchas, autonomia de 600 km e máxima de 100 km/h.

Outro elemento do carro que passou a fazer muito sucesso entre os militares foi a grande resistência contra problemas mecânicos que a caixa de transferência apresentava,, sendo que no Engesa ela apresentava pelo menos duas velocidades, que foi retirada originalmente dos caminhões EE-15/EE-25. Desta forma o carro realmente conseguiu superar uma das principais limitações do carro, que era a ausência da reduzida. Com todos estes itens que evoluíam muito o carro comparado com os outros modelos utilizados pelos militares, o EE logo começou a aparecer muito pelas ruas das principais cidades do Brasil, especialmente as que contavam com unidades militares maiores.

O resultado final foi um veículo que era considerado rústico e ao mesmo tempo muito combativo, o que sempre foi muito interessante para qualquer veículo militar que se preze. O interior do carro era muito resistente, mais do que a maioria dos carros que rodavam e que eram utilizados pelos militares da época, sendo que ele sobrevivia tranquilamente a maior parte das intempéries que surgiam. Os bancos do carro era revestidos de vinil, e o painel apresentava somente aquilo que era essencial para o funcionamento do veículo: velocímetro, hodômetro, marcador de combustível, termômetro e luzes-espia. No assoalho, três alavancas: câmbio, tração 4x4 e reduzida. Os freios eram a tambor nas quatro rodas.

De acordo com as informações oficiais que foram divulgadas, foram feitos 472 EE-34, 86 sob a batuta da Envemo (1981 a 1985), e 386 pela Engesa (1983 a 1985). O carro acabou ganhando ainda uma segunda geração que ainda foi feita pela Engesa e que acabou sendo baseada na Chevrolet D20. Os EE-34 caíram em mãos civis à medida que foram trocados no Exército pelos JPX Montez, Toyota Bandeirante e Land Rover Defender.

Mas como a maioria das empresas do segmento automotivo que se aventuraram nas décadas de 70 e 80 acabaram entrando em uma situação extremamente delicada financeiramente falando, que acabou sendo resultado de uma má administração de um modo geral da empresa, além de outros fatores externos, como uma grande queda mundial na demanda por veículos militares.